sábado, 27 de agosto de 2011

PERDAS E DANOS

 


O medo de perder
É o medo
De não ter
O que não se tem

É o medo
De encontrar o frio
No vazio
Das palavras mortas

De olhar atrás da porta
E não ver a rota
Do reencontro

Medo
De voltar
Ao mesmo ponto

O medo de perder
É o medo
De puxar a corda
E encontrar na ponta
Um nó desfeito

De abrir o peito
E encontrar um câncer
Que não tem mais jeito

Abrir os olhos
E perceber
Que nada é perfeito

O medo de perder
É o medo de sonhar
E acordar
De um pesadelo


É o medo que se tem
De não atender
O próprio apelo

De partir migalhas
E ter que reconhecer
A própria falha

O medo de perder
É o medo que se tem
De perder a fé

Olhar no espelho
E não saber mais
Quem se é.

Má Antunes, 25/08/2011.



terça-feira, 23 de agosto de 2011

A ÚLTIMA CHANCE



        Ele foi se aproximando de mansinho, pé-ante-pé, com o intuito de não acordá-la.
        Deslizou suavemente a mão em seu rosto. Uma pele alva, ávida, macia e aveludada com a pétala de uma flor (como sempre imaginou).
        Tinha uma expressão tranquila e serena de quem dormia um sono profundo. Não queria acordá-la, apenar realizar este seu último desejo de tocá-la.
     Beijou levemente seus lábios subitamente cianóticos. Um beijo frio, árido da indiferença que sentia por ele.
Ela sempre o rejeitou. Dizia sentir nojo dele. Por isso tinha que aproveitar aquele momento único em que ela não reagiria. Dormia um sono profundo.
Apanhou uma flor que estava em seu redor e depositou em seus cabelos longos e negros. Mas era ela quem enfeitava a flor. Tinha uma beleza rara que dispensava qualquer adereço.
Ficou horas observando aquela imagem como se quisesse guardá-la para sempre em sua memória. A amaria para sempre mesmo ela rejeitando esse amor. A amaria para sempre mesmo sabendo que agora esse amor não seria mais possível.
Após deixar uma lágrima se projetar de seus olhos sobre o rosto dela, escorregando lentamente até se perder em sua nuca, cobriu-a com o véu liberando o corpo para que o caixão fosse fechado e dessem prosseguimento ao enterro.
E quando a imagem dele sumia para sempre no campo coberto pela neblina ela levantou-se, dando um longo suspiro de alívio por ter finalmente conseguido livrar-se dessa obsessão.

Má Antunes, 22/08/2011.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

FRAGMENTOS

 


Não procure em mim
A pureza de um anjo
Apenas me procure

Não procure em mim
A beleza das flores
Apenas me procure

Não procure em mim
A serenidade da noite
Apenas me procure

Não procure em mim
O toque suave da brisa
Apenas me procure

Não procure em mim
A alegria dos pássaros
Apenas me procure

Não procure em mim
A grandeza do mar
Apenas me procure

Não procure em mim
Coisas que não vai encontrar
Mas, por favor,
Me procure!

Má Antunes, 05/08/2011.