domingo, 27 de fevereiro de 2011

ANJOS E DEMÔNIOS


Teu amor é fálico
Corta minhas entranhas
Aguça minhas façanhas
Me enche toda de manha

Dissimulado você me possui
Escorregas no meu corpo ócio
Me afogas em teus lábios ávidos
Embriago em teus beijos sóbrios

Deixo impresso em lençóis
Minha porção meretriz
Em tua boca gosto de anis
No teu cerne vou até a raiz

E você por um triz
Declamas gemidos impudico
Me ofertas carinhos fanicos
Impõe prazeres demônicos

Por teu desejo
Passo minha língua
Deixando tua carne a mingua
Percorrendo teu corpo lânguido
Provando teu néctar fluido

E noite inteira
Brinco nesse leva e traz
Usurpando tua energia voraz
Abrindo minha alma fugaz
Deleitando em tua aura sagaz

Pois sou teu anjo
E você meu satanás

Má Antunes, 27/02/2011

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O TEMPO E O ESPAÇO


Todos os dias, quando eu caminhava pelo parque, via um homem sentado no banco do jardim. O corpo arqueado pelo peso das responsabilidades que a vida lhe trouxe e a pele amarelada pelo tempo. O semblante, cansado de tantas desilusões, e os cabelos alvejados de preocupações.
Girava em torno dele como a terra gira em torno do sol.
Um olhar distante fitava um futuro de curto alcance.
Através das linhas que o tempo desenhou em seu rosto, lia suas histórias: seus sucessos, seus fracassos, suas glórias, seu cansaço.
Quão forte era aquele banco para suportar tanta bagagem!
Me admirava ver como podia um simples banco de madeira carregar uma vida inteira. E tão pequeno o espaço a abrigar a imensidão do tempo.
         Há dias vejo o banco vazio. O futuro agora ecoa no vácuo de uma sentença ditada à revelia.
Fico a me perguntar: Será que ele foi feliz para sempre? Para onde foram tantas histórias?
Talvez para o mesmo lugar para aonde vão nossos pensamentos...

Má Antunes, 04/02/2011.