terça-feira, 23 de agosto de 2011

A ÚLTIMA CHANCE



        Ele foi se aproximando de mansinho, pé-ante-pé, com o intuito de não acordá-la.
        Deslizou suavemente a mão em seu rosto. Uma pele alva, ávida, macia e aveludada com a pétala de uma flor (como sempre imaginou).
        Tinha uma expressão tranquila e serena de quem dormia um sono profundo. Não queria acordá-la, apenar realizar este seu último desejo de tocá-la.
     Beijou levemente seus lábios subitamente cianóticos. Um beijo frio, árido da indiferença que sentia por ele.
Ela sempre o rejeitou. Dizia sentir nojo dele. Por isso tinha que aproveitar aquele momento único em que ela não reagiria. Dormia um sono profundo.
Apanhou uma flor que estava em seu redor e depositou em seus cabelos longos e negros. Mas era ela quem enfeitava a flor. Tinha uma beleza rara que dispensava qualquer adereço.
Ficou horas observando aquela imagem como se quisesse guardá-la para sempre em sua memória. A amaria para sempre mesmo ela rejeitando esse amor. A amaria para sempre mesmo sabendo que agora esse amor não seria mais possível.
Após deixar uma lágrima se projetar de seus olhos sobre o rosto dela, escorregando lentamente até se perder em sua nuca, cobriu-a com o véu liberando o corpo para que o caixão fosse fechado e dessem prosseguimento ao enterro.
E quando a imagem dele sumia para sempre no campo coberto pela neblina ela levantou-se, dando um longo suspiro de alívio por ter finalmente conseguido livrar-se dessa obsessão.

Má Antunes, 22/08/2011.

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