domingo, 1 de maio de 2011

O ENCONTRO


        Laura estava navegando na internet, em um site de relacionamentos, quando de repente vê um sinal vermelho no canto esquerdo da tela: era um pedido de adição de amigo. Antes de dar o aceite ela entra no perfil para conferir as condições. Ricardo, 44 anos, com uma foto de um homem lindo. “É muita esmola”, pensou ela, mas pagou para ver, aceitou-o como amigo em seu perfil.
         Não tardou para chegar uma mensagem dele: “seja bem vinda, é sempre muito bom fazer novos amigos”.
         Ela retribuiu carinhosamente o recado sinalizando um tímido interesse em conhecê-lo melhor.
         Assim que teve acesso ao perfil dele tratou de vasculhar tudo. Mas as informações eram breves e não existiam mais fotos no mural a não ser a foto do perfil, o que aguçava a sua curiosidade em saber mais sobre ele. Porém, resistiu ao início de uma inquisição para não parecer que estava se oferecendo.
         O tempo foi passando sem nenhuma outra manifestação até que um dia, quando ela navegava on-line pelo site, sua atenção é despertada por um rápido barulho e uma caixa de texto que se abriu no canto direito da tela.
         - Oi – iniciava Ricardo num bate-papo.
         - Oi – respondeu ela contendo sua ansiedade.
         - Tudo bem com você? – continuou ele abrindo o precedente para uma conversa que se estendeu quase noite à dentro.
         Aquele velho discurso: o que você faz? Onde você mora? O que gosta de fazer? Blá, blá, blá, e as conversas foram se tornando freqüentes e cada vez mais íntimas.
         Conversaram por uns dois meses até que finalmente marcaram um encontro. Ricardo e Laura moravam em cidades diferentes, separados por uns bons quilômetros, o que dificultava o encontro.
         Ricardo conseguira uma hospedagem na casa de amigos que moravam na mesma cidade que Laura, proporcionando a oportunidade de finalmente se conhecerem pessoalmente.
         Laura tinha várias fotos em seu mural e isto permitiu a Ricardo marcar bem o seu rosto. Ela insistia para ele lhe enviar mais fotos, mas ele alegava que não gostava de ser fotografado, porém, insistia que sua foto do perfil refletia suas imagem atual.
         Marcaram o encontro com uma semana de antecedência para a agonia dela. Semana que demorou uma década para passar.
         Como ele chegaria à cidade na sexta-feira no final da tarde insistiu em buscá-la na saída do trabalho. Ela resistia, queria estar produzida para o primeiro encontro, mas ele a convenceu dizendo que queria conhecê-la o mais natural possível.
         Hum, natural? Naquele dia Laura foi trabalhar como se fosse para um baile de gala, despertando a curiosidade de todos. Porém, ela nada contou a ninguém, guardou tudo no mais absoluto segredo.
         Marcaram o encontro em um café que ficava em frente ao prédio onde ela trabalhava, do outro lado da avenida. Um lugar aberto e bem movimentado, garantindo assim uma certa segurança à Laura.
         Ela olhava as horas a cada cinco minutos e respirava fundo para dissipar a sua ansiedade. Quando o relógio apontou 18:00h suas mãos começaram a suar em bica e seu corpo era um tremor só. Retocou a maquiagem e saiu controlando os passos para não correr.
         Naquele dia parecia que o elevador resolveu fazer escalas em todos os andares. Desceria pelas escadas se não estivesse no 9º andar. Quando a porta do elevador se abriu seu coração disparou junto com o sinal de mensagem do seu celular: “já estou aqui te aguardando”, dizia Ricardo na mensagem.
         Ela tentava esconder seu nervosismo, mas tinha a impressão que todos no elevador notavam a sua alteração.
         Saiu do prédio e caminhou até o semáforo acionando o botão do sinal para pedestres. Mais uma eternidade até que o sinal de pedestres ficasse verde para ela. “Não sei por que existe esse botão se demora o mesmo tempo que demoraria se não tivesse sido apertado”, pensava ela enquanto olhava para dentro do café na tentativa de avistar Ricardo.
         De repente, o som de uma longa buzina acompanhado de uma freada seca e o baque que joga Laura a metros de altura fazendo-a cair atrás do carro, batendo com a cabeça no chão. O motorista saiu desesperado para prestar socorro.
         - Oh, meu Deus! Eu não vi o sinal ficar vermelho! – gritava ele enquanto acionava o resgate.
         Não demorou a juntar gente que logo foi dispersado com a chegada do resgate.
         Após uma rápida avaliação dos paramédicos um triste diagnóstico: morte instantânea por traumatismo craniano.
         Laura morreu sem conhecer Ricardo.

         Má Antunes, 27/04/2011.

Nenhum comentário:

Postar um comentário