domingo, 3 de outubro de 2010

BANCO DOS BOBOS

        O trem parou na estação. A porta se abriu. Entrei no vagão e procurei um lugar onde pudesse me acomodar e continuar a ler o meu jornal. Sentei-me em um daqueles bancos chamados “banco dos bobos”. Não sei o porquê desse nome, pois se nos oferece a visão mais panorâmica do vagão.
         E não podia ser mais panorâmica a visão que tinha agora. Logo a minha frente lá estava ela: cabelos lisos e castanhos até quase a altura dos ombros; olhos cor de mel refletindo o brilho do sol; lábios carnudos e vermelhos como uma maçã do amor clamando por uma mordida; uma pele levemente amorenada e com o frescor e a suavidade da pele de um bebê. Mesmo longe consegui sentir o seu perfume: cheiro de orquídea, das mais raras.
         A essa altura já nem lembrava mais do meu jornal. Que notícia poderia ser mais interessante do que aquela que me anunciava o encontro da minha alma-gêmea.
         Vou falar com ela.
         Mas ela sequer notou a minha presença. Está tão entretida em seu livro que parece não perceber o que acontece à sua volta.
         Mas espere, ela levantou os olhos na minha direção e abriu um sorriso que iluminou a minha alma. Ah! Que sorriso lindo! Parece um colar de pérolas no pescoço de uma sereia e duas covinhas que dá vontade de mergulhar nelas.
         Fiquei tão extasiado que nem consegui corresponder. Esta é minha chance agora, vou falar com ela. Mas minhas pernas não me obedecem, que droga! A descarga de adrenalina foi tão forte que me entorpeceu. Minhas mãos parecem uma mina d’água e meu coração bate mais que a bateria de uma escola de samba na apoteose. Fechei os olhos e respirei fundo para me acalmar e tomar coragem.
         E quando abri os olhos, para minha terrível surpresa vejo o banco vazio.
Ó céus! Para onde ela foi?
         Em um mirar certeiro encontrei-a indo em direção à porta. Ela vai descer na próxima estação, não posso perder tempo! Mas o que vou dizer a ela? Por que meus pensamentos me traem? Por que meu corpo não corresponde?
         O trem parou na estação. Aporta se abriu, ela desceu, a porta fechou e o trem partiu. E nunca mais eu a vi.
         É, agora eu entendo porque este banco se chama “banco dos bobos”.

        Má Antunes, 20/05/2010.

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