domingo, 3 de outubro de 2010

O INVASOR



Ele chega sem pedir licença, e com sua imponência magistral derrama seu ouro sobre a prata já envelhecida. Concede a tudo que toca a preciosidade do metal mais nobre. Não pergunta a ninguém se querem recebê-lo, simplesmente impõe sua presença pensando ser ele o centro do universo.
         Para alguns ele simboliza o início, para outros ainda é o fim.
         Chega sorrateiro pelas frestas, penetrando entre lençois e pálpebras anunciando mais um momento solene. Suas lambidas cálidas provocam nas peles mais insensíveis a ereção de suas penugens vulgares. Seus raios febris pigmentam de broze as melaninas pungentes.
         Por vezes é um mero espião, oculto atrás de seu escudo de chumbo, mas que não deixa sua imagem se desvanecer na escuridão do dilúvio.
         Há quem não goste desse invasor, que num gesto bárbaro rouba nossos sonhos, trazendo-nos sem piedade a tão dolorosa realidade.
         Mas para muitos não há nada mais fascinante do que um nascer de sol incandescente.

        Má Antunes, 26/04/2010.

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