domingo, 3 de outubro de 2010

CADEIRA DA MORTE

        Na ante-sala que precedia o acontecimento lá estava ele. Era impossível disfarçar seu desespero. Faria qualquer coisa para fugir daquele lugar patético. Pelo vão da porta entreaberta via apenas uma cadeira. A cadeira mortal. A cadeira que terminaria de vez com aquela torturante angústia. Um silêncio fúnebre o permitia ouvir o preparo dos aparatos, mas via somente aquela cadeira.
Suava frio. Tremia como se estivesse nu na Sibéria. Mas não tinha mais como postergar. Por pior que fosse, seria aquele o dia que daria fim ao sofrimento.
Poderia ter feito tudo diferente, não precisaria ter chegado a tal ponto, pensava corroído pelo arrependimento. Mas agora era tarde, sua sentença estava dita.
Fecha os olhos e respira fundo para minimizar seu pavor, mas é surpreendido por uma voz que vem da porta entreaberta:
- Vamos lá? Chegou sua hora – disse-lhe o dentista com o alicate nas mãos, pronto para extrair aquele dente que não tinha mais salvação.

        Má Antunes, 29/06/2010.

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